:: ARTIGO :: O livro vai acabar?

Flip em Paraty, Bienal do Livro em São Paulo e todo o mercado editorial brasileiro discutindo sobre os livros digitais, direito autoral, distribuição, segurança da informação, royalties etc. Novas tecnologias surgindo tão rapidamente que mal conseguimos digerir o que nos foi apresentado na última feira sobre tecnologia.

O mercado editorial digital está cada vez mais em evidência. Mas, como podemos mostrar a evolução do livro digital em números?
Em julho de 2010, Jeff Bezos, presidente da Amazon, declarou que no mês anterior, as vendas de e-books superaram as vendas de livros impressos. Convertendo para números, a cada 100 livros vendidos, vendia-se 143 eBooks. A Amazon detém cerca de 90% do mercado editorial americano. A venda de eBooks representa, para a empresa atualmente, cerca de 2% do total de vendas. O consumo ainda é pequeno, mas pesquisadores garantem que estes números aumentarão numa velocidade cada vez maior num curto espaço de tempo.

Talvez pouca gente saiba, mas o eBook foi criado no início da década de 90, com a criação do primeiro programa para livros digitais chamado Digital Book v.1. Na década de 70, mas precisamente em 1971, iniciou-se a digitalização de diversos livros para distribuição gratuita.
Quarenta anos depois da primeira digitalização do livro, muita coisa mudou, a máquina de escrever desapareceu, a internet foi criada, os celulares abusam dos aplicativos multi-tarefas, dos HDs nasceram os pen-drives e os livros de papel serão substituidos pelos livros eletrônicos. Será?

Pensando como editor, autor ou consumidor, temos que ter muito cuidado com as "profecias" que são ditas a respeito do fim dos livros impressos.
Algumas pessoas, principalmente as que investem na comercialização de eReaders, são detentoras de um pensamento unilateral, tentando prever um futuro que talvez nunca chegará.

A manufatura do papel surgiu no século II, na China, e o produto é consumido há 19 séculos. Por mais que a tecnologia evolua, nada se compara e nada substituirá um produto que sobrevive durante todo esse tempo.

Quinta-feira, dia 12 de agosto, aconteceu a abertura da Bienal do Livro em São Paulo, apenas para profissionais da área. Parte da equipe do estúdio de editoração que trabalho compareceu e, dos 341 expositores presentes, apenas 2 apostaram na tecnologia digital. Obviamente que os principais fabricantes de eReaders ainda não chegaram no Brasil, mas creio que este número não deve crescer consideravelmente nas próximas edições da Bienal.

Depois de apalpar, sentir a textura, o cheiro, o peso, a sensação de ver uma obra que, em alguns casos, tive a participação direta no desenvolvimento do projeto, é única. Parei então, em um stand de comercialização de eBooks, e pude testar o primeiro eReader comercializado no Brasil, chamado Cool-er, e agora, descreverei sobre a primeira sensação que tive deste produto.

O Cool-er, é uma versão barata do Kindle (fabricado pela Amazon), que carece de wireless e teclado. Permite que você possa adicionar música, possui uma entrada para cartão SD e suporta os formatos PDF e MP3. Mas, o seu grande atrativo mesmo é o preço baixo (custando cerca de $250,00 dólares, e R$700,00 reais no Brasil)

Econômico em todos os sentidos da palavra, mas usável. O Cool-er possui o mesmo tamanho de tela que com Kindle 2, e utiliza uma tecnologia de milhões de cápsulas microscópicas com pigmentos claros e escuros aparecendo ou desaparecendo quando ativados por uma corrente elétrica para a formação de imagens e texto. Permite que o eBook se ajuste automaticamente conforme a definição do usuário. E também pode girar 90 graus para leitura no modo paisagem.

Sua aparência se assemelha com um iPod nano. Está disponível em diversas cores porém falha em usabilidade e design. Em resumo, o Cool-er é um eBook reader, ponto! Sem nenhum aplicativo adicional interessante, criado exclusivamente para atender uma necessidade básica dos usuários de eBooks. É um pouco mais leve que o Kindle 2, facilitando o manejo do aparelho mesmo enquanto você está deitado na cama, escovando os dentes, ou usando o banheiro.

O problema surge logo de cara pela aparência, que se assemelha à uma cópia chinesa de um iPod gigante. Os botões não foram projetados de maneira adequada pensando em ergonomia. Ou seja, os botões, que estão à direita, dificultam a vida de um canhoto. A interface da tela do usuário também leva a crer que foi desenvolvida por uma empresa pequena e com baixo custo. Funciona, porém você precisa se adequar à interface e não o contrário. Também não permite que acrescente anotações pessoais no arquivo.

Você pode adicionar audiobooks em formato MP3 pelo memory card. Ou ainda, adicionar músicas de sua preferência para ouvir enquanto lê, mas o Cool-er não possui controle sobre a reprodução da música enquanto o eBook está aberto. É necessário parar a leitura, sair do arquivo de eBook e acessar as propriedades da música. Creio eu, que funcionaria melhor para audiobooks mas bem meia boca.

Os eBooks são transferidos para o eReader por meio de uma entrada mini USB ou memory card SD, mas não é totalmente compatível com Macs. A transferência de arquivos via OS X vai gerar quatro pastas em branco (com arquivos de metadados que o Mac deposita no driver externo) que você não conseguir abrir nem ao menos excluí-los. Também não possui o modo "auto-sleep" que os aparelhos Kindle possuem.

Aceita eBooks pirateados, permitindo que abra arquivos no formato PDF que você tenha baixado na internet de forma gratuita e sem proteção de direitos autorais.

A sensação que ficou, no final das contas, foi de que o Cool-er não é um eReader ruim, mas não é tão bom quanto outros que existem no mercado para custar o que custa.

E agora? O livro vai acabar? Tire suas próprias conclusões visitando a Bienal do Livro em São Paulo até o dia 22 de agosto no Anhembi.

Comentários

MDBC disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Fassy disse…
Eu li num artigo de fora que o Cool-er é uma espécie de e-reader que foi descontinuado e que as cópias foram compradas pela Gato Sabido baratinho, por este motivo. E claro, por este motivo ele tem o preço final mais em conta, mas o que dizer de um produto que não terá atualização, upgrade, etc? Complicado, não?
Fassy disse…
Completando com o link, pra não ficar leviano o comentário > http://publishingperspectives.com/?p=18098
Eu acho que não acabarão, mas uma boa parcela das pessoas irá mudar para o novo formato. Eu sou meio.. digamos, das antigas. Prefiro um livro "sólido" do que virtual, se posso dizer dessa forma. É mais ou menos aquele lance dos Lps, onde eles são mais charmosos que os cds. Com os livros serão a mesma coisa. Mesmo que os e-books se tornem a primeira maravilha do mundo, muita gente ainda continuará com o bom e velho livro de papel.

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