Criando um projeto gráfico!

Estou trabalhando na criação de um projeto gráfico de um livro sobre Administração / Desenvolvimento pessoal e sempre que pinta esse tipo de trabalho eu penso: e agora? Vem inspiração, vem!

Busco referências na internet, faço roughs no papel, e, quando tenho algum tempo sobrando, passo na livraria mais próxima para saber o que é a "cara" da editora.

Em um mundo perfeito, levaríamos alguns dias para pesquisar e buscar a inspiração necessária para criar um  projeto gráfico bacana. No mundo editorial, temos no máximo dois dias ou até mesmo algumas horas para apresentar um projeto "quase" perfeito (porque a editora nunca aceita a proposta de primeira sem pedir para diminuir a fonte, alterar a margem etc.).

Passada a fase de inspiração e dezenas de roughs depois, costumo seguir algumas regras fundamentais antes de começar a criar o projeto gráfico no InDesign, que são:

Informações de impressão

Engana-se quem acredita que fechamento de arquivo e processo de impressão deve ser a última coisa a se pensar. Informações como tipo de papel, cores, gramatura, revestimento, formato (medidas), processo de impressão, acabamento, quantidade de laudas e um breve briefing sobre o livro e a editora. 

Metade das informações citadas acima podem parecer exageradas ou desnecessárias mas, acredite em mim, não é! Já imaginou o desastre que seria criar um projeto gráfico cheio de cores e a editora omitir a informação que o livro será impressão somente em preto? E cria um projeto pensando em um livro com poucas páginas e acabar virando um Vade Mecum?

Exija essas informações de seu cliente, sendo editora ou não, qualquer trabalho impresso precisa dessas diretrizes para sua realização. 

Preparação do texto

O projeto gráfico no InDesign começa com File > New > New Document seguido de File > Place. E é no Place que o DOC preparado entra em cena. 

O que é um DOC preparado? 

Autor bom é autor que dá trabalho para o editor! É aquele que pressiona a barra de espaço várias vezes consecutivas para criar um recuo de parágrafo, coloca a vírgula onde não é chamada, ressucita o trema e escreve sem pensar na concordância como se não houvesse fim.

A preparação do DOC é o trabalho ingrato que o editor precisa fazer antes de entregar o arquivo nas mãos do diagramador. Ele coloca ordem na casa, os pingos nos "is", organiza os capítulos, títulos, subtítulos, citações, tabelas etc.

Algumas vezes recebemos o DOC direto da fábrica (do autor), e precisamos de poderes paranormais para descobrir o que é o que, mas, em sua maioria, os DOCs vem muito bem preparados.

Criação um novo arquivo no InDesign

Como escrevi anteriormente, criar um arquivo no InDesign é bem fácil: File > New > New Document.

Indicar o que deve ser criado fica um pouco mais difícil. Pegue todos aqueles roughs que desenhou no começo dessa matéria, alguns livros de referência e comece definindo o formato do arquivo, suas margens e a sangria (provavelmente isso foi passado pelo cliente, se não foi peça pelo menos o formato).

Definindo os estilos

Você nunca estará livre dos estilos de parágrafos e caracteres do InDesign, portanto, viva bem com ele! Abra o DOC preparado e faça uma breve pesquisa sobre os estilos criados no arquivo. Cada variação deve ser considerada como um estilo novo. Se houver variação no parágrafo (recuo, fonte, cor etc), crie um estilo de parágrafo, e se houver variação em um único caractere dentro do parágrafo (itálico, negrito, superscrito, sublinhado etc), crie um estilo de caractere para ele. 

Nunca subestime os estilos de caractere, pode parecer besteira mas aplicar um estilo de caractere em um parágrafo é a garantia que aquela variação de estilo permanecerá intácta haja o que houver com o parágrafo. Outra vantagem de criar os estilos de parágrafos e caracteres logo na criação do projeto gráfico é a possibilidade de alterar as preferências do estilo uma única vez na paleta e ser reaplicado automaticamente em todo o texto. Se seu projeto possui tabelas e objetos vetoriais, não esqueça que ainda existem os estilos de tabelas e estilos de objetos!

Um projeto gráfico bem feito nunca tem menos que 10 estilos de parágrafos e 5 estilos de caracteres.

Cabeças (ou cabeços) devem ter estilos próprios e não custa trabalhar com variáveis de texto se deseja que o nome do capítulo se repita no topo ou no rodapé de todas as páginas. 

Páginas de abertura de capítulo

Páginas de abertura de capítulo devem se destacar e chamar mais atenção que as páginas restantes. Se já existe uma capa para o livro, siga a linha de estilo utilizada na capa, caso contrário, utilize o briefing passado pelo cliente e crie cerca de três propostas diferentes para o cliente escolher a que mais lhe agradar. Lembre-se que a que você menos gostar será a escolhida! Isso realmente acontece!

Iniciais e Sumário

Nos projetos de livro, as páginas inicias também são importantes e geralmente seguem um padrão de frontispício (página 1), branca (página 2), falso frontispício (página 3), página de créditos (página 4), dedicatória (página 5), branca (página 6), sumário...

O sumário deve se destacar com estilos próprios sem sair da linha estética do resto do livro. 

Impressão do boneco

Trabalho braçal concluído, é hora de imprimir! 

Imprima algumas páginas do projeto com marca de corte em uma impressora qualquer. Recorte as páginas na marca de corte e monte o boneco do livro. Caneta na mão para brincar do jogo dos 7 erros. Olhe, olhe novamente, olhe mais um pouquinho, passe para o amigo olhar, para o vizinho do andar debaixo, para o gato (se ele sair andando é sinal que o projeto está desinteressante e é melhor refazê-lo), marque tudo o que te incomodar e refaça, imprima, marque e refaça, em looping até o projeto agradar em cada milímetro.

Envie para o cliente, acenda uma vela de sete dias e aguarde as alterações.

Nota: Há três dias fazendo um projeto gráfico hoje acendi a vela de 7 dias e estou no aguardo da editora para aprovação. 

Desejem-me boa sorte!